sábado, 28 de janeiro de 2012

Artigo na revista Herbarium


Um passeio pela nossa Belém

Texto: Tatiana Ferreira, de Belém |11 de novembro de 2011
Projeto da Universidade Federal do Pará promove um jeito diferente de fazer turismo na capital do estado, com roteiros pela história, arquitetura e sabores da cidade
chamada
São apenas oito horas da manhã e o sol forte já esquenta o centro de Belém, como acontece em toda a Amazônia no mês de outubro. Na Estação das Docas, ponto turístico obrigatório para quem visita a capital paraense, nosso grupo, com cerca de 30 pessoas, se encontra para iniciar uma programação especial: conhecer ou revisitar o mercado do Ver-O-Peso e sua feira livre, considerada a maior da América Latina. O passeio inclui ainda áreas históricas que ficam no entorno do principal cartão postal da cidade. Estudantes, profissionais, pesquisadores e alguns turistas formam o grupo que acordou mais cedo no domingo para participar do projeto “Roteiro Geo-Turístico: Do Complexo Ver-O-Peso ao Porto”, uma iniciativa da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Nossa chegada a pé ao Ver-O-Peso chama a atenção dos feirantes e de seus clientes, pouco acostumados a ver grupos grandes que não estejam nos ônibus de turismo. Mesmo para quem, como eu, nasceu e vive na cidade, é impossível não se encantar com tamanha opção de frutas regionais,  temperos, verduras e legumes. Sem contar a presença das famosas “erveiras”, vendedoras que comercializam plantas, sementes e óleos oriundos dabiodiversidade da Amazôna. Do colorido das barracas do Ver-o-Peso, passamos à área interna do Mercado de Peixe ou Mercado de Ferro, onde chegam a ser comercializadas 27 toneladas de peixe por dia. Chamam atenção as colunas, torres e escadas – todas trabalhadas em ferro – trazidas da Europa e montadas em Belém em 1899.
Maria Goretti Tavares, professora do curso de Geografia da UFPA e coordenadora do projeto, conta que os roteiros geo-turísticos foram criados em contraponto aos roteiros tradicionais, nos quais os turistas conhecem as cidades de forma rápida e superficial. “Em Belém, temos poucas ações voltadas para o turismo patrimonial, tanto material quanto imaterial, aquele que inclui os saberes tradicionais e a gastronomia”, explica Maria Goretti. “Procuramos mostrar como a geografia contribui para o entendimento do espaço urbano e do território e como arquitetura, história e cultura se entrelaçam nessa paisagem. Discutimos também a relação sociedade e natureza e, no caso específico do roteiro de hoje, como o rio influencia de forma importante na vida da cidade”, completa.
A crítica ao descaso com o patrimônio histórico é outro assunto que desperta o interesse do grupo, principalmente quando somos lembrados de que Belém completará 400 anos em 2016. Já na avenida Boulevard Castilhos França, podemos ver alguns poucos casarões revitalizados contrastando com o resto dos prédios, que precisam de cuidados urgentes. Verdadeiros testemunhos da colonização portuguesa, eles também marcam presença na Rua 15 de novembro, onde funcionaram grandes instituições financeiras no auge do Ciclo da Borracha (1840-1920), quando Belém chegou a ter sua própria Bolsa de Valores.
Por último, voltamos à Estação das Docas, nosso ponto de partida e também de conclusão do roteiro. O lugar, uma verdadeira doca, teve seus armazéns revitalizados e reabertos em 2000. Hoje, abriga um complexo de lazer com restaurantes, teatros e lojas. Os guias explicam que o projeto mudou para melhor a paisagem da orla de Belém, mas criticam o fato de o complexo não atrair a população mais pobre da capital paraense. Essa integração seria importante, até por conta da complexidade social da área em que está situado o projeto.
Além do trajeto do Ver-O-Peso, o Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo da UFPA realizou no primeiro semestre de 2011 o roteiro da Cidade Velha, bairro mais antigo de Belém. O projeto tem apoio do IPHAN, da Paratur e da Coordenadoria Municipal de Turismo da Prefeitura de Belém. A programação é realizada a cada 15 dias, com inscrições gratuitas. Informações: (91) 8331-8460 roteirosgeoturisticos@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário